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sonora

Memória e paisagem de São Luiz do Paraitinga
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Coleções Outono/Inverno

introdução

O nosso ambiente é, desde sempre, o som. Um dos primeiros sentidos a se abrir, e um dos últimos a se fechar. Chega a ser inescapável: pode-se fechar os olhos, mas nunca os ouvidos. Com ele, constituímos profundidade de espaço, dimensão temporal, orientação e afetos.

 

Esse tecido sonoro nos acompanha e pauta nossa relação com o ambiente em que vivemos. O seu estudo, especialmente em sua dimensão de construção afetiva, revolve estruturas distintas mas correlatas: o lugar e a pessoa.

 

Por um lado, a possibilidade de definir uma comunidade por suas linhas acústicas, e a partir delas refletir sobre como se constroem os significados, discursos e tensões dentro daquele espaço. Por outro, como se constrói a relação subjetiva dos habitantes da cidade com um espaço marcado por uma sonoridade peculiar, e que se sustenta culturalmente em seus atributos sonoros.

 

Partindo dos conceitos de paisagem sonora e cartografia afetiva, este projeto pretende se debruçar sobre relatos e registros da experimentação sonora como caminho poético de análise sócio-histórica de uma pessoa, de um espaço, período, comportamento e cultura.

 

A base para a pesquisa da paisagem sonora se dá a partir de parâmetros de análise e composição do mapeamento sonoro. Os sons a serem recolhidos são chamados de eventos sonoros (1), ou seja, sons produzidos em um contexto específico, com função social para aquele indivíduo e sua comunidade. O mapeamento sonoro é uma ferramenta para a criação de uma cultura auditiva consciente, que permita a orquestração da paisagem sonora de modo que todos os sons possam ser ouvidos favoravelmente, inclusive visando sua fruição estética (2).

As análises a respeito da paisagem sonora, entretanto, são atravessadas neste trabalho por conceitos e reflexões a respeito do impacto afetivo das sonoridades que rodeiam uma comunidade, partindo do princípio de que o ambiente cultural é tão formador da experiência humana quanto o ambiente físico (3).

 

O intuito de mapear as sonoridades de São Luiz do Paraitinga é de estimular a reflexão sobre a conexão de sua paisagem sonora com a frutífera vida musical da cidade e sua importância na construção da subjetividade dos seus habitantes. 

 

Fundada oficialmente em 1769, a cidade (4) exercia o papel, desde seus anos de vila, de entreposto de tropeiros, por localizar-se exatamente à metade do caminho entre o Porto de Ubatuba e os comércios de Taubaté (5). Essa finalidade original - de pouso e repouso - conferiu à cidade um caráter identitário marcado pelos folguedos. Sua vida sonora é, portanto, intensamente pautada por manifestações culturais (moçambiques, congadas, jongos, folias de reis e do Divino, etc), festas populares (juninas, natalinas, gincanas, etc) e encontros musicais espontâneos (em praças, bares, casas de família, etc).

 

Além disso, conforme os estudos da paisagem sonora, novos parâmetros de ruído da modernidade afastaram nossa atenção da paisagem que nos cerca (6), desligando-nos da dimensão da responsabilidade social e afetiva envolvida ao produzir e fruir sons, frequentemente levando-nos à poluição sonora e ao apagamento de marcos sonoros (7), em vista da densidade de sons da modernidade que os sobrepõem, ou mesmo da destruição dos ecossistemas mais naturais. São Luiz do Paraitinga, em sua abundância natural e cultural, tem marcos sonoros na iminência do desaparecimento.

 

Entretanto, a preservação dos marcos sonoros não deve ser confundida com um tradicionalismo arraigado, afinal, a cultura tem força e plasticidade, e se transforma de acordo com seus tempos e espaços, sem arrefecer. Sua percepção é o melhor caminho para cuidá-los.

 

Sendo assim, permear a memória sonora da cidade, a partir de testemunhos pessoais de seus habitantes, é um caminho para observar os sons da cidade em sua direta relação com a própria vida de quem mora ali. 

 

Os textos aqui dispostos foram construídos como crônicas a partir desses testemunhos e, em consonância com as colagens imagéticas e os arquivos sonoros e visuais, produzem uma sobreposição de fenômenos que têm a intenção de poetizar a disposição da paisagem sonora nesses relatos e, assim, abrir portas para uma escuta consciente e orquestrada da paisagem sonora de São Luiz do Paraitinga de maneira que a cidade seja, cada vez mais, um espaço de rica experiência humana no mundo.

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citados 5
citados 4
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citados 3
citados 2
Sítio Tatarana
Rua do Carvalho, n1
Igreja Matriz
Quarto de ensaios da Corporação Musical
Alto-falante

Lugares citados

Lugares das entrevistas

entrevistado 6
entrevistado 5
entrevistado 4
entrevistado 3
entrevistado 2
entrevistado 1
Thar
Nena
Sandro
Renô
Galvão
Zé Sacristão
entrevistado 3
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a cidade

citados 6
citados 8
citados 7
Igreja do Rosário
Rua do Cruzeiro
Mercado Municipal
entrevistado 9
entrevistado 8
entrevistado 9
João Rafael
Camilo
Natália
entrevistado 1
entrevistado 2
entrevistado 4
entrevistado 5
entrevistado 6
entrevistado 9
entrevistado 8
entrevistado 9
citados 2
citados 3
citados 4
citados 5
citados 6
citados 7
citados 8
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pássaro
sino
rio
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Notas

(1) Para Schafer (1997), “eventos sonoros” são os sons identificados e analisados na comunidade, a fim de analisá-los considerando seus significados associativos àquela comunidade. A nomenclatura serve principalmente para distinção de “objetos sonoros”, espécimes sonoros laboratoriais.

(2) SCHAFER, M. A afinação do mundo. Unesp, 1997, passim.

 

(3) MACHADO, S. Canção de ninar brasileira. Edusp, 2017, p. 27.

(4) São Luiz do Paraitinga se localiza no Vale do Paraíba, numa área de 617km². Compreende também o distrito de Catuçaba. Tem 10.687 habitantes (IBGE/2019), dos quais cerca de 40% vivem na zona rural, e cuja principal atividade econômica é a agropecuária. É considerada Estância Turística e seu Centro Histórico é tombado como Patrimônio Cultural Nacional. Dados da Prefeitura Municipal.

(5) TOLEDO, M. São Luiz o ano inteiro. Vogal, 1997.

(6) SCHAFER, M. A afinação do mundo. Unesp, 1997, passim.

(7) “[O termo marca sonora] se refere a um som da comunidade que seja único ou que possua determinadas qualidades que o tornem especialmente significativo ou notado pelo povo daquele lugar.” SCHAFER, M. A afinação do mundo. Unesp, 1997, p. 27.

    Trabalho de Conclusão de Curso

    Comunicação e Multimeios - PUC-SP

    Maria Paula Carvalho Ferreira

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